- Ciclo vicioso, é tudo um maldito ciclo vicioso.
Dizia repetidamente, enquanto deitava com a mão molhada na areia da praia.
Depois se levantava em posição de lótus e começava a limpar a areia de sua mão. Até que
quando terminava de limpar. Sua coluna estava cansada. E ele tornava a deitar com a mão
na areia.
- "são tão frágeis"
Pensava ela enquanto tomava vinho e olhava ao longe para um homem que não se decidia se sentava ou se ficava deitado na areia.
Ela realmente conseguia ler as pessoas como ninguém. Conhecia a língua da alma e nada
parecia assusta-la.
- Do que você gosta?
- Nada. - respondeu ele tentando desviar os olhos do olhar profundo que ela lançava.
-então, faremos nada juntos - Disse ela enquanto repousava a cabeça em sua perna sem
pedir licença.
Não teve reação. Apenas olhou-a por um segundo, e tornou a fitar o horizonte, como se
conseguisse enxergar o fim do mar.
Ela, era bela, cabelos longos, pele branca, olhos negros e profundos, calma, vária e
vaga.
Ele, não era feio, mas também não era belo... Normal, chato, ranzinza... Essa era a
palavra. Ranzinza! Talvez pela falta de autoconfiança, talvez ego abalado. Talvez os
dois.
Já era tarde da noite não havia ninguém na praia. Alias, ele não lembrava nem porque
estava ali.
-Você não deveria aprisioná-los tanto assim - Ela disse enquanto tomava um gole do vinho
da garrafa e oferecia a ele.
- Escrever - Ele respondeu enquanto tomava o vinho, também na garrafa.
- Eu gostava de escrever.
- Ainda lembro como meu coração batia acelerado enquanto as idéias me vinham a cabeça.
- Mas tanto o sentimento quanto as idéias me abandonaram. Sinto falta as vezes.
- Bom, Então vamos escrever.
- Mas, não tenho caderno, nem caneta.
Ela levantou, pegou um graveto e começou a escrever na areia.
Escreveu sobre o mar, sobre iemanjá, sereias, fadas, tristeza e sabedoria...
Falou de amor, de encontros e desencontros.
Por fim olhou pra ele no fundo dos olhos e perguntou:
- O que achou?
- É lindo, mas é inútil.
- Por que escrever tão bela história na areia?
- Amanhã o mar vai apagar tudo mesmo.
- Nada dura pra sempre. - Disse ela sorrindo...
Tomou um ultimo gole do vinho, beijou-lhe a boca entrou no mar e não voltou mais.
Ele foi embora sem entender muita coisa, teve insônia. E volto a escrever aquela noite.
Na noite seguinte, foi a praia novamente. Andou até onde seus pés puderam aguentar, o
vinho ajudava. Mas o frio era forte.
Resolveu voltar.
Ia embora maldizendo a vida novamente quando avistou uma garota de longe...
Não era a mesma garota. Esta de cá era loira, e tinha cabelos curtos, seus olhos eram
verdes. Não poderia ser a mesma.
Ele passou e ela o olhava profundamente nos olhos.
-Hey, me da um pouco de vinho?
-Do que você gosta? - Perguntou ele...
-De escrever.
Entregou-lhe o vinho. Pegou um graveto e começou a anotar na areia...
“... Ciclo vicioso. É tudo um maldito ciclo vicioso...”
Israel Albuquerque.
Vagabundo e alcoólatra nas horas vagas.