terça-feira, 21 de abril de 2009

Ciclo vicioso.

- Ciclo vicioso, é tudo um maldito ciclo vicioso.

 

Dizia repetidamente, enquanto deitava com a mão molhada na areia da praia.

Depois se levantava em posição de lótus e começava a limpar a areia de sua mão. Até que

quando terminava de limpar. Sua coluna estava cansada. E ele tornava a deitar com a mão

na areia.

 

- "são tão frágeis"

 

Pensava ela enquanto tomava vinho e olhava ao longe para um homem que não se decidia se sentava ou se ficava deitado na areia.

Ela realmente conseguia ler as pessoas como ninguém. Conhecia a língua da alma e nada

parecia assusta-la.

 

- Do que você gosta?

- Nada. - respondeu ele tentando desviar os olhos do olhar profundo que ela lançava.

-então, faremos nada juntos - Disse ela enquanto repousava a cabeça em sua perna sem

pedir licença.

 

Não teve reação. Apenas olhou-a por um segundo, e tornou a fitar o horizonte, como se

conseguisse enxergar o fim do mar.

 

Ela, era bela, cabelos longos, pele branca, olhos negros e profundos, calma, vária e

vaga.

 

Ele, não era feio, mas também não era belo... Normal, chato, ranzinza... Essa era a

palavra. Ranzinza! Talvez pela falta de autoconfiança, talvez ego abalado. Talvez os

dois.

 

Já era tarde da noite não havia ninguém na praia. Alias, ele não lembrava nem porque

estava ali.

 

-Você não deveria aprisioná-los tanto assim - Ela disse enquanto tomava um gole do vinho

da garrafa e oferecia a ele.

 

- Escrever - Ele respondeu enquanto tomava o vinho, também na garrafa.

- Eu gostava de escrever.

- Ainda lembro como meu coração batia acelerado enquanto as idéias me vinham a cabeça.

- Mas tanto o sentimento quanto as idéias me abandonaram. Sinto falta as vezes.

 

- Bom, Então vamos escrever.

- Mas, não tenho caderno, nem caneta.

 

Ela levantou, pegou um graveto e começou a escrever na areia.

 

Escreveu sobre o mar, sobre iemanjá, sereias, fadas, tristeza e sabedoria...

Falou de amor, de encontros e desencontros.

Por fim olhou pra ele no fundo dos olhos e perguntou:

 

- O que achou?

- É lindo, mas é inútil.

- Por que escrever tão bela história na areia?

- Amanhã o mar vai apagar tudo mesmo.

- Nada dura pra sempre. - Disse ela sorrindo...

 

Tomou um ultimo gole do vinho, beijou-lhe a boca entrou no mar e não voltou mais.

 

Ele foi embora sem entender muita coisa, teve insônia. E volto a escrever aquela noite.

 

Na noite seguinte, foi a praia novamente. Andou até onde seus pés puderam aguentar, o

vinho ajudava. Mas o frio era forte.

Resolveu voltar.

 

Ia embora maldizendo a vida novamente quando avistou uma garota de longe...

Não era a mesma garota. Esta de cá era loira, e tinha cabelos curtos, seus olhos eram

verdes. Não poderia ser a mesma.

 

Ele passou e ela o olhava profundamente nos olhos.

 

-Hey, me da um pouco de vinho?

-Do que você gosta? - Perguntou ele...

-De escrever.

 

Entregou-lhe o vinho. Pegou um graveto e começou a anotar na areia...

 

“... Ciclo vicioso. É tudo um maldito ciclo vicioso...”

 

 

Israel Albuquerque.

   Vagabundo e alcoólatra nas horas vagas.

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